porque é que não dei a volta?

Não devia andar por aqui. Arrependo-me sempre que venho por este caminho e agora tenho que andar mais rápido, não olhar para os lados para não dar a entender nada, seguir sempre em frente a olhar para baixo, assim não faço contacto visual com ninguém e não sou incomodada.

Se nunca passaste por isto, agradece. A sensação de seres uma inconveniência no meio de grupos constituídos por homens com intenções que não prevês que tivessem, não é nada engraçada. Se o arrependimento matasse. Porque é que não dei a volta? Nem toda a gente me vai respeitar por ser uma mulher ou por não querer responder a perguntas impertinentes que me fazem querer desaparecer ou me enchem de um sentimento de frustração tão tóxico que só se expele através do choro enquanto na mente vai o mesmo pensamento de sempre deixem-me em paz.

Quando falo com amigas e percebo que é tão comum como um problema do dia a dia e que não há nada que possamos fazer já que não depende de nós mas de quem tem a audácia de querer ser visto através de uma lente que suscita o nojo ao ponto de abordar jovens (e quem sabe menores) com as piores intenções. Foi aí que percebi que idade não equivale a maturidade, mas ás vezes, a retrocesso.

A culpa obviamente, não é minha, nem tua. Essas atitudes que nos incomodam, frustram ás vezes levam-nos a agir nas nossas emoções. No momento o que mais queres é que desapareçam, ou que se toquem de que é ridículo e previsível. Não consigo contar as vezes em que tive que sair do passeio e andar na beira da estrada porque senti o incômodo do testosterona á distância.

Queria tanto estar a mentir agora, da mesma forma que não queria que te identificasses com este texto. Confesso que hesitei em escrevê-lo, porque não vos posso apresentar soluções a esta realidade que nos atormenta como mulheres, não vos posso dizer a melhor forma de agir posto que eu mesma a desconheço. O que eu posso dizer, é que a minha dor é tua, de quem a sente e também de todos vocês, homens, que pedem perdão por algo que nunca fizeram mas, que não podem conter que aconteça.